Serás campeão: dez mandamentos para o momento histórico dos mineiros
Força em casa, apoio da torcida, capacidade de contratação, comprometimento tático e aposta em estrutura física ajudam a explicar soberania dos clubes do estado
Os dois últimos anos colocaram Minas Gerais no epicentro do futebol brasileiro. Em 2013: Atlético-MG campeão da Libertadores, Cruzeiro campeão brasileiro; em 2014: Cruzeiro perto do bicampeonato nacional, ambos na final da Copa do Brasil. É um momento histórico para os dois gigantes de Belo Horizonte – e um fenômeno que certamente não é ocasional. Para chegar lá, foram respeitadas algumas leis do futebol, algumas regras que, quando combinadas, aproximam os clubes do mandamento que eles mais buscam: serás campeão.
Abaixo, estão listadas algumas qualidades que, com maior ou menor intensidade, influenciam no sucesso recente dos dois clubes. São apostas em comum de Cruzeiro e Galo: força como mandante, identificação com a torcida, metodologia em contratações, continuidade, aposta em estrutura física, consideração com as categorias de base, confiança em referências dos torcedores, o mínimo de paz política, profissionalização do departamento de futebol e modernidade tática.
Não há nenhuma descoberta da roda nesses elementos. São pontos de conhecimento do universo do futebol. O que tem diferenciado os mineiros de boa parte de seus concorrentes é a capacidade de colocá-los em prática, como observa o técnico do Cruzeiro e ex-profissional do Atlético-MG, Marcelo Oliveira:
- O que acontece é uma combinação de aspectos positivos. São dois clubes tradicionais, de grande torcida, com bons estádios para jogar, com estrutura física muito boa, entre os três ou quatro melhores do Brasil nesse aspecto. Isso gera receita para formar bons grupos de jogadores, bons elencos, e tudo isso aliado a administrações seguras, equilibradas, que investem bem no futebol.
Atlético-MG e Cruzeiro não têm um estádio próprio. Mas souberam se apossar de duas casas que viraram símbolos de sua força. O aproveitamento do Cruzeiro no Mineirão é de 85,9% desde a reabertura do maior palco de Minas Gerais, em 2013. O Atlético-MG, no Independência, chega a 79,2% desde que ele voltou a ser liberado para jogos, em 2012. No Horto, o Galo fez milagres e referendou boa parte da caminhada na Libertadores da América do ano passado. No Mineirão, o Cruzeiro arquitetou a conquista do Brasileirão do ano passado. Antes, quando os estádios estavam fechados, os clubes padeceram e chegaram a correr risco de rebaixamento no nacional.
- O Cruzeiro fez um planejamento, contratou jogadores que deram resultado, trouxe grandes jogadores. Fez um planejamento legal. Os jogadores vieram, deram conta do recado. Isso soma. O momento é bom porque teve um planejamento, uma escolha certa dos jogadores – resumiu o volante Henrique.
O Atlético-MG é menos sistemático em suas aquisições. Alexandre Kalil assumiu a presidência do clube em outubro de 2008 e já naquela época dizia que seria cirúrgico nas compras. Dois anos depois, porém, já tinha adquirido mais de 60 atletas – e dispensado quase metade deles. Mas aprendeu com os erros. Em 2012, por exemplo, só buscou 11 atletas. No ano seguinte, foram mais dez. Em 2014, menos ainda: nove. A diretoria costuma apostar em nomes mais consagrados. Alguns deram certo, casos de Ronaldinho, Victor e Diego Tardelli, e outros funcionaram bem menos – Diego Souza é um exemplo.
No Cruzeiro desde o início de 2013, Marcelo Oliveira é o técnico da Série A há mais tempo no comando de um clube. A exemplo de Cuca, ele resistiu a momentos complicados para alcançar títulos. No começo de seu trabalho, perdeu o Campeonato Mineiro para o rival. E foi mantido para, na sequência, arrancar rumo à conquista folgada do Brasileirão. Eliminações em competições como a Copa do Brasil do ano passado e a Libertadores de 2014 não tiveram força para abalar a confiança no treinador.
- O Cruzeiro tem uma estrutura excepcional. Dá para contar numa mão os clubes com a estrutura do Cruzeiro. A estrutura física dá total condição: quatro campos, piscina térmica, academia que foi ampliada, um hotel como poucos, com conforto, tranquilidade, espaço. O Cruzeiro tem dado as condições para esse trabalho - diz Marcelo Oliveira.
No Cruzeiro, Gilvan de Pinho Tavares experimenta conforto parecido. Foi eleito presidente no segundo semestre de 2011 e assumiu o cargo no ano seguinte. No início do mês passado, conquistou a reeleição sem sequer precisar entrar em uma disputa eleitoral. Foi aclamado. Não houve chapa de oposição. Ele fica mais três anos no cargo.
Os dois departamentos se sustentam em profissionais fixos do clube, que mantêm seus cargos independentemente de trocas de treinadores. No Galo, o preparador físico Carlinhos Neves e o preparador de goleiros Chiquinho não são indicação de Levir Culpi. Já estavam lá antes. Ou seja, é o treinador que precisa se encaixar na comissão técnica, não o contrário.
O Cruzeiro também tem boa base fixa. Mas Marcelo Oliveira acrescentou três profissionais de sua preferência à estrutura: o preparador físico Juvenilson de Souza e os auxiliares Tico dos Santos e Ageu Gonçalves.
São setores bastante recheados de especialistas. O Cruzeiro se permite o luxo de ter quatro fisioterapeutas. O Atlético-MG tem até dentista e podóloga.
- Outro fator que ajuda a explicar o sucesso de futebol mineiro é a intensidade tática de Cruzeiro e Galo. Na execução de seus esquemas de jogo, o coletivo sobressai ao individual, e os times atuam com intensidade: muita velocidade e máxima concentração de quem joga – comenta Leonardo Miranda, blogueiro do GloboEsporte.com.
São duas equipes de vocação ofensiva. A velocidade é uma arma no Cruzeiro, e a troca de posições é frequente no Galo.
- O elenco do Galo é muito bom, e desde a Libertadores, com o Cuca, a gente mantém esse esquema. O jogador na frente tem que marcar, tem que ter essa ideia na cabeça: voltar para ajudar, assim como a defesa nos ajuda na frente. É isso que o Levir procura fazer. Temos um grupo coeso. Quando perdemos a bola, já apertamos para roubar novamente – opina o meia Maicossuel.