10/02/2008
Na relação de quase amor e quase ódio entre tucanos e petistas, o momento é de tensão. Ao lado do DEM, uma ala do PSDB deseja realizar uma CPI dos cartões corporativos no plano federal, o que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vê como tentativa de enfraquecer seu governo.
O PT deu o troco em São Paulo, propondo uma comissão parlamentar de inquérito na Assembléia para investigar gastos semelhantes do governo José Serra.
Para complicar ainda mais, um setor petista que detesta as boas relações da seção mineira com Aécio Neves quer trazer o governador mineiro para o imbróglio, cobrando explicações sobre despesas pequenas feitas sem licitação.
Parece não ser uma boa hora, portanto, para falar de eventual aproximação entre PT e PSDB. Mas Lula e uma ala do PT capitaneada pelo prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, voltaram a pensar na possibilidade de Aécio integrar uma ampla coligação em 2010 para tentar derrotar uma provável aliança entre PSDB e DEM.
O cenário
Lula continua a avaliar que Aécio não obterá a candidatura do PSDB à Presidência da República. Para o presidente, o governador de São Paulo, José Serra, será o nome tucano na cédula eleitoral de 2010.
Aécio já andou dizendo nos bastidores que não aceita "fato consumado". Leia-se: dar de barato desde já que Serra será o candidato por ser o presidenciável mais bem posicionado em todas as pesquisas eleitorais.
Aécio ameaçou abrir uma dissidência em Minas, segundo colégio eleitoral do país --base na qual tem sólido apoio. Não interessa a Serra, portanto, brigar com o colega.
Mas apenas um deles será o candidato. E o governador mineiro acha pouco a vaga de vice.
Uma chance de entendimento entre os dois tucanos é o final da reeleição e a volta de um mandato presidencial de cinco anos, mas essa não é uma operação fácil.
Na avaliação de Lula, Aécio deveria ousar e trocar o PSDB pelo PMDB. Poderia fazê-lo um ano antes da eleição e deixaria um vice de confiança assumir seu posto, Antonio Anastasia.
Os peemedebistas já convidaram Aécio. Avaliam que ele teria discurso: retornar ao partido de seu avô, Tancredo, porque o PSDB lhe teria fechado as portas prematuramente. Essa é outra operação tão complicada quanto o arranjo para acabar com a reeleição.
Se Aécio aceitasse correr o risco, Lula se empenharia para que Ciro Gomes (PSB) topasse ser vice dele. Ex-ministro da Integração Nacional e nome do campo lulista mais forte nas pesquisas hoje, Ciro conquistou a confiança de Lula. Jovem como Aécio, formaria com o mineiro uma chapa com grande penetração no Nordeste e no segundo maior colégio eleitoral do país. O PMDB é um partido enraizado nacionalmente, o que ajudaria esse projeto presidencial.
Mas há ainda outra operação complicada: Lula convencer o PT a coadjuvar essa chapa em troca de uma forte participação no governo. Comando da área econômica e social, por exemplo.
Esse é o cenário traçado por integrantes da cúpula do PT e do governo que avaliam que o partido dificilmente conseguirá viabilizar um nome forte para disputar a sucessão de Lula. É o cenário traçado por gente que acha que Dilma Rousseff, a poderosa ministra da Casa Civil, não vai decolar apesar dos empurrões que Lula tem lhe dado.
Arquivo do Datafolha
No início de dezembro de 2007, pesquisa Datafolha publicada pela Folha mostrou que Serra era o presidenciável mais forte em todos os cenários. Mas, na hipótese em que Aécio constava como candidato, ele tinha a sua menor marca.
Vamos aos números: Serra obteve 33%; Ciro, 19%; Heloisa Heleina (PSOL), 15%; Aécio, 11% e Nelson Jobim (PMDB e ministro da Defesa), 2%.
Em um cenário sem Aécio e com a melhor marca de um postulante petista (6% de Marta Suplicy, ministra do Turismo), Serra ficou com 37% contra 18% de Ciro. HH obteve 13%, e Jobim, os seus modestos 2%.
Quando Dilma substituiu Marta, a ministra conseguiu parcos 2%. Serra oscilou para 38%. Ciro também marcou um ponto percentual a mais (19%).
Kennedy Alencar, 40, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos. E-mail: kalencar@folhasp.com.br |
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