PM e Prefeitura de BH estão à caça dos responsáveis por misterioso anúncio de supressão de espécies centenárias
Cristiano Couto
Ação de suposta firma de exportação de madeira surpreendeu população
O mistério envolvendo o aparecimento de placas anunciando o corte de dezenas de árvores de grande porte em Belo Horizonte mobilizou, na última quinta-feira (19), as autoridades da capital. Após a denúncia do Hoje em Dia de que uma empresa derrubaria 20 ficus centenários na Avenida Bernardo Monteiro, no Bairro Santa Efigênia, na Região Leste, órgãos da prefeitura e a Polícia Militar de Meio Ambiente passaram o dia tentando descobrir o autor da “ameaça”.
Durante a fiscalização, muitos populares se indignaram com a possibilidade de que os cortes realmente aconteçam. No fim da tarde, moradores do Bairro Santa Tereza informaram que as mesmas placas foram afixadas em jatobás, cedros e castanheiras na Praça Duque de Caxias.
A prefeitura nega qualquer chance de supressão das espécies. Nas placas, que têm o nome e o endereço eletrônico da empresa que seria responsável pela retirada, constam ainda números de lotes, códigos de barra para leitura portuária e a informação de que a madeira será exportada. No site, a firma se apresenta como especialista em compra e venda de madeiras nacionais e tem como lema "desmatar com sustentabilidade".
Mas as informações não foram suficientes para que as autoridades conseguissem identificar os responsáveis pela empresa. Na página virtual, não há telefone para contato e o endereço fornecido, em Brasília (DF), é incorreto. Além disso, a suposta firma, que atenderia clientes do exterior, tem o site hospedado em um servidor gratuito.
A maneira como os cortes foram anunciados surpreendeu os fiscais municipais e até os policiais militares do meio ambiente. Todos afirmaram jamais terem visto algo parecido. Também disseram desconhecer esse tipo de negócio.
"Mas o infrator sempre inova. Vamos tentar identificar os responsáveis e cobrar explicações", garantiu Willian Nogueira, gerente de regulação urbana da Regional Centro-Sul da prefeitura.
Na quinta, as placas colocadas na Avenida Bernardo Monteiro foram removidas pelos servidores. O Executivo pretende emitir autos de infração e aplicar multas de R$ 2.115,80 por árvore a quem fixou os avisos. A medida é baseada no Código de Posturas, que proíbe a instalação de engenhos de publicidade em espaço público sem a devida licença.
A PM também registrou o episódio em um boletim de ocorrência. Segundo a corporação, os autores podem ser presos por crime ambiental, já que danificaram as espécies ao usar pregos para colocar as placas. A pena prevista é de três meses a um ano de detenção.
Fiscais removeram as placas na Av. Bernardo Monteiro quinta, com base no Código de Posturas (Foto: Cristiano Couto)
Os avisos recolhidos pela prefeitura serão encaminhados ao Ministério Público, que vai ajudar nas investigações. Fato que chamou a atenção dos fiscais é que chapas de impressão de livros da Editora da Universidade Federal de Minas Gerais foram usados para confeccionar os comunicados. A UFMG alegou que, após a publicação de títulos, o material é vendido para reciclagem.
Para o médico João Novaes, que trabalha em frente aos ficus, tudo não passa de uma jogada de marketing ou do protesto de algum grupo ativista ligado ao meio ambiente. "Uma empresa séria não iria se arriscar a levar uma multa ou a fazer algo que desagradasse a sociedade".
Vistoria detecta contaminação por fungo
Na avaliação de quem circula pela Avenida Bernardo Monteiro e imediações, a Prefeitura de Belo Horizonte está sendo omissa em relação às árvores. A advogada Beatriz Helena de Souza, que trabalha há 12 anos na região, diz que os ficus que receberam as placas estão comprometidos.
"Não é preciso ser especialista para notar que as árvores centenárias estão decadentes. As copas já não têm mais folhas. Pelo contrário, estão completamente peladas", disse.
No fim do ano passado, a própria advogada se encarregou de acionar a prefeitura. Ela protocolou um pedido de vistoria. No documento, alertou o poder público sobre a situação dos ficus que, aparentemente, poderiam cair a qualquer momento. "Acho que as árvores estão morrendo".
No entanto, o departamento responsável por fiscalizar a condição das espécies informou não ter previsão para ir ao local, segundo a advogada. "Eles me sugeriram contratar um biólogo para averiguar a situação", recordou, indignada.
Um casal de médicos, que preferiu não se identificar, também acusou o Executivo de fazer vista grossa ao problema. "Antigamente, com as copas das árvores repletas de folhas, os raios de sol nem eram notados pelos pedestres. Agora, é a mesma coisa que não ter nada. Não há cobertura nenhuma", disse o homem.
A prefeitura confirmou que recebeu uma solicitação de vistoria das árvores da Avenida Bernardo Monteiro. Mas alega que o solicitante não se identificou.
Por meio de nota, a Regional Centro-Sul informou que, entre 24 e 29 de abril, durante inspeção em quinze árvores da via, foi constatada a contaminação das espécies por fungos.
Esclareceu, porém, que conforme laudo técnico do engenheiro agrônomo da Gerência de Jardins e Áreas Verdes da regional, elas não apresentavam risco de queda. "Todas estão sendo monitoradas por meio de vistorias periódicas, para evitar o desenvolvimento da doença", diz a nota.
Por fim, alegou que os engenheiros agrônomos vão acompanhar se os fungos estão regredindo e se há necessidade do uso de algum produto ecológico para controlar a praga, uma vez que a aplicação de substâncias tóxicas nas espécies é proibida.
A Regional Leste não soube informar a situação das árvores do Bairro Santa Tereza que receberam placas.
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