quinta-feira, 26 de maio de 2011

'É um milagre', diz mulher de dois úteros que deu à luz gêmeos em MG (Postado por Erick Oliveira)

A moradora de Três Pontas, no Sul de Minas Gerais, que tem dois úteros e deu à luz gêmeos, espera receber alta com os filhos nesta sexta-feira (27). Os bebês Isabella e Mateus nasceram com 2,8 quilos e 2,21 quilos nesta quarta-feira (25) na Santa Casa de Misericórdia do Hospital São Francisco de Assis. Eles passam bem e estão no quarto com a mãe. “Não cabe mais onde ter felicidade”, declarou Jucéa Maria de Andrade, de 38 anos, que se recupera da cesariana.
O caso dela é raro e fatores durante a gestação tornaram a gravidez complicada. “É um milagre, uma coisa que a ciência não explica”, disse. Jucéa, que tem outra filha de sete anos, relatou ao G1 que teve um choque quando soube da segunda gravidez. Diz que sentiu muito medo de morrer no parto porque os médicos pensavam que a gestação não passaria do sexto mês. “Eu sou a prova de que Deus existe”, falou.
Durante a cesariana, segurou um amuleto de padre Victor, cedida pela igreja da cidade. Segundo ela, a relíquia é uma foto do religioso muito devotado na região com uma oração no verso e um pedaço da roupa usada por ele. Isso deu esperanças de que tudo correria bem. “Tenho um santo que é meu protetor, padre Victor. Então, entrei com a relíquia dele e fiquei o parto inteirinho com ela na mão. Ele já é venerado, né, falta pouco para virar santo”. Padre Vitor era filho de escravos e viveu em Três Pontas. “Todo mundo ficou aliviado”, disse a mãe sobre a sensação dos familiares após o nascimento.
Segundo Jucéa, ninguém contava com esta segunda gravidez. “Escapuliu. Todos dois”, completou se referindo aos  bebês. Ela relata que os médicos disseram que a gestação era de alto risco por causa da idade avançada, da malformação do útero e do hipertireoidismo, que desenvolveu nos últimos meses. “Passei muito mal, foi tudo em dobro. Uma gravidez complicada do começo até o final”, disse.

A partir do sétimo mês, ela começou a acreditar no sucesso da gravidez e passou a fazer repouso absoluto. “Nem fiz chá de bebê. Tive que comprar as roupinhas e as lembrancinhas na semana passada”. Jucéa diz ainda que a primeira filha dela não sentiu ciúmes dos novos integrantes da família. “A menininha é a cara dela e também é quietinha”, conta. “O Mateus é mais arteiro. Dentro da barriga ele já era assim”.

‘Útero Didelfo’
Segundo a ginecologista Márcia Andréia Mesquita Mendes, que acompanhou a gestação desde os primeiros meses, Jucéa possui uma malformação chamada “útero Didelfo”. Durante a formação do órgão reprodutor, uma divisão surgiu separando as partes. Cada um dos filhos foi formado em um útero diferente. Ainda segundo ela, a fecundação e a formação dos fetos foram semelhantes a uma gestação de gêmeos fraternos – que é quando dois espermatozóides fecundam dois óvulos –, mas, ao invés de duas placentas em um único útero, os bebês foram gerados em dois órgãos reprodutores diferentes.

Segundo o especialista em ginecologia endócrina José Arnaldo de Souza Ferreira, o caso de Jucéa é ainda mais incomum, pois cada óvulo foi captado por uma trompa uterina diferente. De acordo com ele, existia a possibilidade de que os gêmeos fossem gerados em um único útero, mesmo que a paciente tenha outro.
Este tipo raro de malformação uterina ocorre em 10 de cada 20 mil mulheres, segundo José Arnaldo. De acordo com o médico, muitas mulheres engravidam e convivem com o problema sem ter conhecimento da existência dele. O ginecologista explica que, para ter um diagnóstico certo, é preciso fazer um ultrassonografia tridimensional, ou uma ressonância nuclear magnética ou uma laparoscopia, que consiste em um procedimento cirúrgico. Contudo, a suspeita pode surgir depois de procedimentos clínicos simples.
Ainda segundo o médico, grande parte dos casos de gravidez em “útero didelfo” chega ao fim de forma segura e tranquila para a mãe e o bebê, mas, em alguns casos, a malformação pode causar problemas de circulação sanguínea e aborto. Outros problemas como o tamanho do órgão - que pode ser pequeno e insuficiente para a gestação – também pode levar à interrupção da gravidez.

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